30 de jan. de 2011

PARA SUA MEDITAÇÃO

=*=Um pouco de sol=*=Essa vida agitada que levamos, batalhas que devemos vencer diariamente para que possamos progredir, nos faz muitas vezes deixar de olhar a nossa volta, o céu, o mar, o sol...Que mesmo no meio dessa turbulência moderna possamos parar, olhar, sentir e perceber o essencial, onde está o valor real das coisas, a verdadeira riqueza, quais nossos íntimos desejos, o que somos e o que gostaríamos de realizar...Precisamos parar por alguns momentos para não sermos engolidos, buscar assim o mais autêntico ‘EU’, encontrando uma paz que transforma e resgata valores perdidos nessa nossa caminhada...Precisamos abrir os olhos para o espetáculo que é a vida, cada dia é um desafio mas também uma benção...Só despertos, podemos perceber além de palavras e imagens...Você pode se sentir feliz e mudar tudo a sua volta só contemplando, seu humor mudará, as pessoas sentirão sua paz e terão prazer de estar ao seu lado...Viver é complicado sim, exige muito sim, mas acredito que nós colaboramos para isso...Quando acontece algo difícil, temos duas opções, nos tornarmos amargos, infelizes, revoltados com tudo e todos ou descobrir nas adversidades, nossa força interior, toda nossa energia e vontade de reagir, encarar tudo e seguir da melhor forma. Isso nos torna pessoas melhores...Devemos agir de acordo com a nossa essência, o que revela nosso mais íntimo ao mundo são nossas ações, quando nossa alma se torna mais sábia, conhecedora de si própria, tudo que fazemos bem intencionados se transformam em sublimes ações...Quanto mais buscamos esse conhecimento interior, mas ocorre o crescimento em todos os aspectos...Não é simples essa busca por nós mesmos, ela sempre será uma constância pra quem quer o melhor, dia a dia podemos notar nossa evolução pessoal, como conseqüência, nosso progresso, nos tornamos mais conscientes, o que nos livrados dos desejos viciosos e nos torna centrados nessa caminhada harmoniosa para o crescimento do serviço “a vida...Nosso maior desafio somos nós, por isso quando mudamos, o mundo muda também... Que possamos seguir sendo raios de sol...Um bom dia,um pouco de sol pra você.
ENSAIO - SIMONE MARIELLE








27 de jan. de 2011

Casamento

Adélia Prado


Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.

20 de jan. de 2011

S MIL E UMA NOITES
Estou me entregando ao prazer ocioso de reler "As mil e uma noites". O encantamento começa com o título que, nas palavras de Jorge Luis Borges, é um dos mais belos do mundo. Segundo ele, a sua beleza particular se deve ao fato de que a palavra mil é, para nós, quase sinônimo de infinito. "Falar em mil noites é falar em infinitas noites. E dizer mil e uma noites é acrescentar uma além do infinito." As mil e uma noites são a estória de um amor - um amor que não acaba nunca. Não existe ali lugar para os versos imortais do Vinícius (tão belos que o próprio Diabo citou em sua polêmica com o Criador): "Que não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure..." Estas são palavras de alguém que já sente o sopro do vento que dentro em pouco apagará a vela: declaração de amor que anuncia uma despedida. Mas é isto que quem ama não aceita. Mesmo aqueles em quem a chama se apagou sonham em ouvir de alguém, um dia, as palavras que Heine escreveu para uma mulher: "Eu te amarei eternamente e ainda depois." É preciso que a chama não se apague nunca, mesmo que a vela vá se consumindo. A arte de amar é a arte de não deixar que a chame se apague. Não se deve deixar a luz dormir. É preciso se apressar em acordá-la (Bachelard). E, coisa curiosa: a mesma chama que o vento impetuoso apaga volta a se acender pela carícia do sopro suave... "As mil e uma noites" são uma estória da luta entre o vento impetuoso e o sopro suave. Ela revela o segredo do amor que não se apaga nunca. Um sultão, descobrindo-se traído pela esposa a quem amava perdidamente, toma uma decisão cruel. Não podia viver sem o amor de uma mulher. Mas, também, não podia suportar a possibilidade da traição. Resolve, então, que iria se casar com as moças mais belas dos seus domínios, mas depois da primeira noite de amor, mandaria decapitá-las. Assim o amor se renovaria a cada dia em seu vigor de fogo impetuoso, sem nenhum sopro de infidelidade que pudesse apagá-lo. Espalham-se logo, pelo reino, as notícias das coisas terríveis que aconteciam no palácio real: as jovens desapareciam, logo depois da noite nupcial. Xerazade, filha do vizir, procura então o seu pai e lhe anuncia sua espantosa decisão: desejava tornar-se esposa do sultão. O pai, desesperado, lhe revela o triste destino que a aguardava, pois ele mesmo era quem cuidava das execuções. Mas a jovem se mantém irredutível. A forma como o texto descreve a jovem Xerazade é reveladora. Quase nada diz sobre sua beleza. Faz silêncio total sobre o seu virtuosismo erótico. Mas conta que ela lera livros de toda espécie, que havia memorizado grande quantidade de poemas e narrativas, que decorara os provérbios populares e as sentenças dos filósofos. E Xerazade se casa com o sultão. Realizados os atos de amor físico que acontecem nas noites de núpcias, quando o fogo do amor carnal já se esgotara no corpo do esposo, quando só restava esperar o raiar do dia para que a jovem fosse sacrificada, ela começa a falar. Suas palavras penetram os ouvidos vaginais do sultão. Suavemente, como música. O ouvido é feminino, vazio que espera e acolhe, que se permite ser penetrado. A fala é masculina, algo que cresce e penetra nos vazios da alma. Segundo antiquíssima tradição, foi assim que o deus humano foi concebido: pelo sopro poético do Verbo divino, penetrando os ouvidos encantados e acolhedores de uma Virgem. O corpo é um lugar maravilhoso de delícias. Mas Xerazade sabia que todo amor construído sobre as delícias do corpo tem vida breve. A chama se apaga tão logo o corpo tenha se esvaziado do seu fogo. O seu triste destino é ser decapitado pela madrugada: não é eterno, posto que é chama. E então, quando as chamas dos corpos já se haviam apagado, Xerazade sopra suavemente. Fala. Erotiza os vasios adormecidos do sultão. Acorda o mundo mágico da fantasia. Cada estória contém uma outra, dentro de si, infinitamente. Não há um só orgasmo que ponha fim ao desejo. E ela lhe parece bela. Tão bela. Bela como nenhuma outra. Porque uma pessoa é bela, não pela beleza dela, mas pela beleza nossa que se reflete nela... Conta a estória que o sultão, encantado pelas estórias de Xerazade, foi adiando a execução, por mil e uma noites, eternamente e um dia a mais. Não se trata de uma estória de amor, entre outras. É, ao contrário, a estória do nascimento e da vida do amor. O amor vive nesse sutil fio de conversação, balançando-se entre a boca e o ouvido. A Sônia Braga, ao final do documentário de celebração dos 60 anos do Tom Jobim, disse que o Tom era o homem que toda mulher gostaria de ter. E explicou: "Porque ele é masculino e feminino ao mesmo tempo..." O segredo do amor é a androgenia: somos todos, homens e mulheres, masculinos e femininos ao mesmo tempo. É preciso saber ouvir. Acolher. Deixar que o outro entre dentro da gente. Ouvir em silêncio. Sem expulsá-lo sem argumentos e contra-razões. Nada mais fatal contra o amor que a resposta rápida. Alfange que decapita. Há pessoas muito velhas cujos ouvidos ainda são virginais: nunca foram penetrados. E é preciso saber falar. Há certas falas que são um estupro. Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir. E, sobretudo, os que se dedicam à difícil arte de advinhar: advinhar os mundos adormecidos que habitam os vazios do outro. As mil e uma noites são a estória de cada um. Em cada um mora um sultão. Em cada um mora uma Xerazade. Aqueles que se dedicam à sutil e deliciosa arte de fazer amor com a boca e o ouvido (estes órgãos sexuais que nunca vi mencionados nos tratados de educação sexual...) podem ter a esperança de que as madrugadas não terminarão com o vento que apaga a vela, mas com o sopro que a faz reacender-se. Rubem Alves.

12 de jan. de 2011

http://www.youtube.com/watch?v=Bc0Csn4H3Qk
Entrevista

Um homem do mundo me perguntou:

o que você pensa do sexo?

Uma das maravilhas da criação eu respondi.

Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas

e esperava que eu dissesse maldição,

só porque antes lhe confiara:

o destino do homem é a santidade.

A mulher que me perguntou cheia de ódio:

você raspa lá? Perguntou sorrindo,

achando que assim melhor me assassinava.

Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.

Santo, santo, santo é o amor que vem de Deus,

não porque uso luva ou navalha.

Que pode contra ele o excremento?

Mesmo a rosa, que pode a seu favor?

Se "cobre a multidão dos pecados e é benigno,

como a morte duro, como o inferno tenaz",

descansa em teu amor, que bem estás.
"Borboletas em bando,
bando de estrelas no céu,
feitos para deixar minha alma admirada.
Ó mundo bonito!
Eu quero conhecer quem fez o mundo
tão consertadamente descuidoso. [...]
O espírito busca palavras,
quem não enxerga ouve sons,
quem é surdo vê luzes,
o peito dispara a pique de arrebentar.
Salve mistérios! Salve mundo!"

Adélia Prado. O aprendiz de ermitão, In: A faca no peito.

CASAMENTO FERNANDA E CLAUS











COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
(Adélia Prado)

15 ANOS MICHELLE